Se você chegou até aqui, provavelmente está interessado em fazer a cirurgia bariátrica. Às vezes, você não preenchia os requisitos antes ou só agora que surgiu a vontade de fazer.

Recentemente, a Resolução CFM nº 2.429/2025 ajustou as novas regras para a realização da cirurgia para adultos e adolescentes. 

Neste artigo, nós vamos explicar tudo o que você precisa saber sobre a cirurgia bariátrica para entender se você pode fazer e se informar antes de ir ao médico buscar esse tratamento.

1. O que é a cirurgia bariátrica?

A cirurgia bariátrica é um tratamento contra a obesidade e de suas comorbidades metabólicas. Quando há falha no tratamento clínico, a cirurgia pode ser um meio viável. É confuso, eu sei.

Mas eu vou te explicar. 

Provavelmente você já “lutou” contra a balança muitas vezes, já fez acompanhamento com nutricionista, visitou vários médicos, já começou e parou de fazer exercícios físicos seguidas vezes, fez dietas consideradas malucas. Certo? 

Um dia você decide mudar e busca ajuda médica. Quando o tratamento dado por cirurgião e equipe multidisciplinar não responde como deveria, há a falha do tratamento, optando pelo tratamento cirúrgico. Ou seja, não conseguiu melhorar os seus exames, não teve uma perda de peso, não controlou ou melhorou as comorbidades. 

Existem dois tipos de cirurgias altamente recomendadas e reconhecidas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM): bypass gástrico em Y de Roux ou gastrectomia vertical (também conhecida como sleeve gástrico). 

Essas técnicas são baseadas em estudos científicos da literatura mundial, tendo segurança e eficácia. 

Além destas, existem outras cirurgias alternativas que são reconhecidas, mas são indicadas geralmente para procedimentos revisionais: duodenal switch com gastrectomia vertical, bypass gástrico com anastomose única, gastrectomia vertical com anastomose duodeno-ileal e gastrectomia vertical com bipartição do trânsito intestinal.

Essas cirurgias não são as que mais apresentam segurança e eficácia, se comparadas com as anteriores. Porém, a depender do caso, podem ser as melhores opções. Isso somente o médico cirurgião poderá avaliar.

Mas atenção: existem dois tipos de cirurgias que não são recomendadas e não são autorizadas pelo CFM por conta dos resultados não satisfatórios, que são banda gástrica ajustável e cirurgia de scopinaro. 

Além disso, o CFM reconhece os procedimentos endoscópicos: balão intragástrico pode ser recomendado como tratamento da obesidade em pacientes com restrição aos procedimentos cirúrgicos ou como preparo do  pré-operatório para cirurgia bariátrica e metabólica; Gastroplastia endoscópica (plicatura gástrica endoscópica e outros termos similares) pode ser recomendado para o tratamento da obesidade.

2. Quais os requisitos para realizar a cirurgia bariátrica em adultos?

Em adultos, a cirurgia bariátrica pode ser feita em:

• Pacientes com índice de massa corpórea (IMC) igual ou maior a 40kg/m², independente de comorbidade associada;
• Pacientes com IMC igual ou superior a 35kg/m² e interior a 40kg/m² quando associado a pelo menos uma doença agravada pela obesidade e que haverá melhora com a perda de peso;
• Paciente com IMC igual ou superior a 30kg/m² e inferior a 35kg/m² na presença de: 
  • diabetes mellitus tipo 2
  • doença cardiovascular grave com lesão em órgão alvo
  • doença renal crônica precoce em pacientes com diabetes tipo 2
  • apneia do sono grave
  • doença gordurosa hepática não alcoólica com fibrose
  • afecções com indicação de transplante
  • refluxo gastroesfágico com indicação cirúrgica
  • osteoartrose grave
• Pacientes com  IMC igual ou superior a 60kg/m² deverão ser avaliados quanto à capacidade estrutural/física do hospital em que serão operados (camas, macas, mesa cirúrgica, cadeira de rodas e outros equipamentos médicos hospitalares necessários), assim como o preparo da equipe multidisciplinar na assistência a esses pacientes singulares, por serem mais propensos a eventos adversos devido a maior complexidade de sua doença.

3. Quais os requisitos para realizar a cirurgia bariátrica em adolescentes?

Pacientes com 16 anos ou mais podem ser elegíveis ao tratamento cirúrgico preenchendo os mesmos requisitos dos adultos, desde que: a) o paciente e seus familiares entendam os riscos, à necessidade de mudança de hábitos de vida inerentes ao tipo de cirurgia que fará e a necessidade de acompanhamento multidisciplinar a longo prazo. 

Precisa também, além do IMC e das comorbidades já citadas no tópico anterior, desenvolvimento da maturidade psicológica e fisiológica, capacidade de compreender riscos e benefícios, aderir às mudanças no estilo de vida, capacidade de tomar decisões e suporte social e familiar antes e depois da cirurgia.

Havia mais uma categoria na resolução antiga (de 2017) que eram os pacientes com diabetes e IMC a partir de 30kg/m³, mas precisava ter o diagnóstico por 10 anos e idade entre 30 e 70 anos. Agora, a partir dos 14 anos é possível fazer a cirurgia bariátrica, sem precisar também os 10 anos de diagnóstico.

4. Quais as contraindicações cirúrgicas?

Obesidade ou doença metabólica passíveis de controle com tratamento clínico, paciente com abuso de drogas ilícitas não tratado ou mal controlado, paciente gestante, paciente com incapacidade de aderir às recomendações do pós-operatório, especialmente o acompanhamento com a equipe multidisciplinar e as mudanças ao estilo de vida. 

5. Como precisa ser formada a equipe cirúrgica?

O cirurgião ou, pelo menos, um membro da equipe deve ter especialização (RQE – Registro de Qualificação de Especialidade Médica (é a conclusão da residência médica, sabe?) em cirurgia geral ou aparelho digestivo, preferencialmente com área em atuação em cirurgia bariátrica e metabólica no CRM. 

Isso você pode conferir no site do CFM. Você só precisa colocar o nome do médico no formulário que tem no site.

Caso o médico tenha especialidade, irá aparecer “ARÉA – RQE nº XXXX”. Agora, se o médico não ter residência, aparecerá “Médico sem especialidade registrada.”

É essencial ter o médico anestesiologista como membro da equipe cirúrgica, sendo que ele precisa estar concordando com o procedimento cirúrgico. 

6. Pode ser realizado em clínicas menores?

Não! Antigamente podia, mas agora somente em hospitais de grande porte que realizam cirurgias de alta complexidade, com plantonista hospitalar 24 horas e Unidade de Terapia Intensiva, além de equipes multidisciplinares experientes em tratamento de obesidade, diabetes e na realização em cirurgia gastrointestinal.

7. Como funciona o período pré-operatório?

Precisa sempre analisar as necessidades do paciente. A escolha da técnica cirúrgica deve ser compartilhada entre a equipe cirúrgica, a equipe multidisciplinar e o paciente (ou seu representante).

O paciente precisa saber detalhadamente o tipo de cirurgia, os efeitos colaterais, as complicações e a possibilidade de reversão ou não da técnica a ser usada. 

8. Como funciona o período pós-operatório?

Além de todas as informações anteriores que são importantes, aqui é o que traz realmente o sucesso da cirurgia bariátrica: o acompanhamento pós-operatório.

O acompanhamento deve constar do monitoramento do estado nutricional, das comorbidades que já existiam, a reposição de vitaminas e minerais. 

Por ser uma doença crônica, o paciente pode apresentar recidiva, que é quando a obesidade ou as comorbidades prévias voltam.

Conclusão

Lembre-se: busque profissionais em quem você confie, pesquise, pergunte e siga todas as orientações dadas por todos os profissionais (não só o médico, viu?). A nossa ajuda aqui com os seus direitos é só uma pequena parte da resolução da doença. 

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